segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ser brotinho



Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.

Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.

É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.

Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.

É telefonar muito, estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.

Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.

É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.

Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar songamonga de quem nada vê, nada ouve, nada fala.

Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Tradução por um Amigo



Ontem menina
Hoje chora
Ontem pedia
Hoje implora

Implora um amor
Como quem nunca ama
Implora apego
Como quem nunca se apega

Pede um tempo
Vive um pesadelo
O tempo revela
Quem o tempo escondia

Outra pessoa
Outra menina
Dentro de si alguém
Que não conhecia

Mais humana e real
Nem frágil nem fortaleza
Não há mais barreiras
Agora é ela mesma

Procura o seu homem
Seu homem a procura
Espera por algo
Algo a espera

Ansiosa sem saber
Como se fosse acontecer
Algo tão surreal
Que fosse a socorrer

Socorrer de estar só
Ou até da rejeição
Quem sabe do tempo
Pedido em vão

Esquece e perdoa
Como se nada acontecesse
O passado não entoa
Como se a vida esclarecesse

Escreve para o futuro
O que vive no presente
Uma carta, um absurdo
Mas é o só o que sente

Cativa e surpreende
Nunca é a mesma
Cada dia é o primeiro
Em sua infinita centelha

Centelha de amor
Que aprendeu a sentir
Centelha da amizade
Que quer repartir

E o destino brincalhão
Brinca de fazê-la mulher
Mas a menina está lá
Só pode ver quem quer

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

?



Ui...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

1º de Julho



Eu vejo que aprendi o quanto te ensinei
E nos teus braços que ela vai saber
Não há por que voltar, não penso em te seguir
Não quero mais a tua insensatez.

O que fazes sem pensar
Aprendeste do olhar
E das palavras que guardei pra ti

Não penso em me vingar
Não sou assim
A tua insegurança era por mim
Não basta o compromisso
Vale mais o coração
E já que não me entendes
Não me julgue, não me tentes

O que sabes fazer agora
Veio tudo de nossas horas
Eu não minto eu não sou assim

Ninguém sabia e ninguém viu
Que eu estava ao teu lado então

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha
Só minha
E não de quem quiser
Sou Deus, tua Deusa meu amor

Alguma coisa aconteceu
Do ventre nasce um novo coração...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Mensagem pra você!



E o destino brincalhão se mostrou pra mim.
Eu conheço essas cores e esse sabor.
Sei como você está se sentindo nesse momento, sei o que a força de uma nova paixão é capaz e conheço também o desfecho dessa história.

Nesse momento único que está vivendo, seus pensamentos passarão bem longe de mim, porém, por vez ou outra você se pegará pensando nas coisas que se passaram e aos poucos isso vai virar uma sombra no seu coração.

No término da paixão, que é inevitável, essa sombra será maior e em alguns momentos ela te assustará de verdade e o passado se fará bem mais presente.

É incrível perceber como você foi tão largamente influenciado, meu pesar é que essa influência aconteceu no pedaço da minha vida que mais me envergonho, e a sua escolha foi a mais dolorida.

Nesse momento você não vai cogitar essa possibilidade, mas seu grande medo, desde o mais remoto início da nova paixão é sentir exatamente o que estou sentindo agora.


Mas a força disso em conjunto com a fé de que tudo poderá ser diferente vai te alimentar e te impulsionar e também te derrubar.

Nunca uma história ficou tão clara pra mim! É exatamente a repetição de um clone perfeito, com quase todas as características e erros, com a diferença básica que, eu nunca usei nada do que disse contra você, e sempre tive pulso para justificar as minhas escolhas sem precisar me apoiar nos outros, apenas em mim mesma.

Conhecer os dois lados da mesma moeda é dolorido e incrível ao mesmo tempo: de um lado fica a dor, do outro a sabedoria de entender exatamente o que aconteceu e o que o futuro nos reserva.

Pra mim isso simboliza claramente o fim de um ciclo, onde pra mim não existem mais contas à pagar, apenas a possibilidade interminável de um recomeço.

Pra você isso simboliza o caminhar no início desse ciclo, e toda a dor e dúvida que ele vai te proporcionar.

Eu conheço o caminho dos barcos e o final da história está escrito nas estrelas.